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Bebida de alho e limão reduz o colesterol e previne enfartes?

20 Nov 2023 - 09:34
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Bebida de alho e limão reduz o colesterol e previne enfartes?

O alho e o limão são os protagonistas de mais uma mezinha partilhada nas redes sociais. Num vídeo do TikTok com centenas de milhar de reações, alega-se que beber “um copo por dia, em jejum”, de uma mistura com água, “três limões” e “três dentes de alho com casca” reduz o colesterol e previne enfartes.

Segundo o criador de conteúdo, esta bebida tem o poder de “limpar as artérias cheias de colesterol”. Isto porque, supostamente, “o sumo de limão ajuda a reduzir o colesterol LDL no sangue e, por ser rico em antioxidantes, bloqueia a formação de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos”. Além disso, por ser composto por alicina, o alho também “reduz os níveis de colesterol no sangue”. É verdade?

Ingerir uma bebida com alho e limão reduz o colesterol e previne enfartes?

Em esclarecimentos ao Viral, Ana Isabel Pedroso, especialista em Medicina Interna, adianta que “não há evidência científica sólida que comprove que uma bebida feita com estes ingredientes possa reduzir o colesterol e, por consequência, possa prevenir enfarte”. 

Além disso, a médica desmonta três alegações feitas no vídeo.

1 – Por ser composto por alicina, “o alho reduz os níveis de colesterol no sangue”?

De facto, “alguns estudos sugerem que o alho pode ter um efeito na redução do colesterol total e do colesterol LDL (o ‘mau’)”, admite a médica. No fundo, “acredita-se que os compostos de enxofre presentes no alho, incluindo a alicina, possam desempenhar um papel nesse efeito ao ajudar a diminuir a produção de colesterol no fígado”.

Contudo, destaca, “estes efeitos parecem ser modestos e nem sempre consistentes, pois podem variar entre os indivíduos”, salienta.

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Portanto, “consumir alho regularmente pode ter alguns benefícios para a saúde cardiovascular, mas não é uma cura para problemas cardíacos”, frisa Ana Isabel Pedroso.

2 – O sumo de limão ajuda a diminuir o colesterol LDL?

“Os limões são uma excelente fonte de vitamina C e compostos antioxidantes que podem ajudar a proteger as células do stress oxidativo”, começa por adiantar a especialista.

Nesse sentido, existem alguns estudos “que indicam que a vitamina C pode estar associada a um menor risco de doenças cardiovasculares”. No entanto, “a relação direta entre o consumo de limão e a redução do colesterol LDL não foi estabelecida de forma conclusiva”, porque a evidência disponível é “limitada” e “não conclusiva”, aponta.

Por isso, tal como o alho, “o limão pode fazer parte de uma dieta saudável e equilibrada, mas o seu impacto específico na redução do colesterol LDL pode não ser determinante”.

3 – O limão “bloqueia a formação de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos”?

“Os antioxidantes são conhecidos por ajudar a combater o stress oxidativo e podem ter um papel na proteção das células”, relembra Ana Isabel Pedroso. Contudo, não se pode afirmar que “o limão bloqueia diretamente a formação de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos”.

Embora os antioxidantes do limão possam ter essas propriedades, “o impacto específico na formação de placas nas artérias não pode ser afirmado de maneira direta e isolada apenas com base no consumo de limão”, sustenta.

Isto porque “o processo de formação de placas de gordura (aterosclerose) nas artérias é um fenómeno complexo, com várias etiologias, como a inflamação e a oxidação do LDL”. 

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A que se deve o aumento do colesterol LDL? Quais os riscos associados?

A especialista em Medicina Interna explica que “o aumento dos níveis de colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade), com frequência referido como ‘colesterol mau’, pode ser influenciado por diversos fatores”.

Alguns exemplos são: “o consumo excessivo de alimentos ricos em gorduras saturadas e trans (como carnes gordurosas, laticínios integrais, frituras e produtos processados)”; a “inatividade física”; a “obesidade e o excesso de peso”; e o “tabagismo”.

Por outro lado, há outros fatores importantes, mas que não podem ser controlados. “Os níveis elevados de colesterol LDL podem ser herdados”. Logo, há aqui uma carga genética.

Para mais, “a idade e o sexo” também são aspetos relevantes. Com “o envelhecimento, os níveis de colesterol LDL tendem a aumentar” e “os homens geralmente têm níveis mais altos do que mulheres até a menopausa”.

Noutro plano, o aumento do colesterol LDL acarreta vários riscos para a saúde que podem levar à ocorrência de um enfarte. “Altos níveis de colesterol LDL podem levar à acumulação de placas nas artérias (aterosclerose), estreitando-as e dificultando o fluxo sanguíneo”, salienta Ana Isabel Pedroso.

Por consequência, “isso pode resultar em doenças cardíacas coronárias (enfarte agudo do miocárdio), angina, acidente vascular cerebral (AVC) e outros problemas cardiovasculares”.

No mesmo sentido, “níveis elevados de LDL podem contribuir para a pressão arterial elevada”, aumentando, mais uma vez, “o risco de complicações cardiovasculares”, acrescenta.

Em acréscimo, “o acúmulo de placa nas artérias pode levar a problemas circulatórios, como claudicação intermitente, onde a circulação inadequada causa dor nas pernas durante o exercício”, refere.

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Além disso, o colesterol LDL elevado também pode potenciar “outras condições de saúde”, nomeadamente “o risco de desenvolver diabetes tipo 2 e doenças renais”, conclui a médica.

O que fazer para reduzir o colesterol LDL e prevenir enfartes?

Segundo Ana Isabel Pedroso, “existem várias medidas que podem ajudar a reduzir os níveis de colesterol LDL no sangue e, consequentemente, ajudar na prevenção de problemas cardíacos, como enfartes”. A médica aponta sete principais estratégias de prevenção:

  1. Ter “uma dieta saudável rica em frutas, vegetais, grãos integrais, legumes, nozes e sementes”, reduzindo “a ingestão de gorduras saturadas e trans”;

  2. Incluir na alimentação “fontes de gorduras saudáveis, como ácidos gordos ómega-3 encontrados em peixes, azeite, abacate e sementes de chia”;

  3. Praticar “exercício físico” de uma forma regular, “por pelo menos 150 minutos por semana”;

  4. Manter um “peso saudável”;

  5. Parar de fumar”;.

  6. Evitar o álcool, já que o consumo excessivo “pode aumentar os níveis de triglicéridos e, por consequência, os níveis de colesterol LDL”;

  7. “Quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes para controlar o colesterol”, devem ser receitados “medicamentos” para o efeito.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.

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Categorias:

Alimentação

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20 Nov 2023 - 09:34

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